Cobrado pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva a dar uma guinada na pasta diante da crise de
popularidade, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, deu a largada na gestão
aumentando a divulgação das campanhas de vacinação e buscando novas estratégias
para o combate à dengue. A ordem do Palácio do Planalto é centrar as forças no
que foi considerado um "gargalo" da gestão de Nísia Trindade.
A lista inclui a diminuição das
filas para consultas e cirurgias no Sistema Único de Saúde (SUS), problema
histórico e visto dentro do governo como o mais difícil de ser resolvido a curto
prazo.
Padilha completa hoje três
semanas no cargo. Nos últimos dias, levou o Zé Gotinha para um culto na
Assembleia de Deus, em São Paulo, e para a final do Campeonato Paulista entre
Corinthians e Palmeiras. Ao tomar posse, o ministro anunciou que viajaria o
país ao lado do personagem com o intuito de fazer com que "o Brasil volte
a ter o maior e mais diverso programa de vacinação do sistema público do
mundo”.
O ministro também determinou
mudanças nas estratégias de comunicação sobre vacinação, com campanhas
específicas para as redes sociais e o retorno das peças para a televisão. A pasta
disse, em nota, que “o reforço das ações de comunicação contemplam,
principalmente, ações de mobilização e parcerias orgânicas, além dos recursos
do Ministerio da Saúde já disponíveis para campanhas de interesse público na
ordem de R$ 250 milhões por ano”.
— Vamos fazer uma campanha forte.
Eu vou procurar as igrejas, sobretudo nas regiões mais vulneráveis. Vou
procurar artistas, influenciadores nas redes sociais, torcidas uniformizadas,
times de futebol. Queremos um movimento amplo para superar o número de doses
aplicadas no ano passado — disse Padilha na semana passada, durante entrega de
doses contra a Influenza.
Ao longo do mês, Padilha também
lançou mudanças na estratégia de vacinação contra a influenza, que teve 55% do
público alvo prioritário imunizado em 2024. Ao todo, são 81 milhões de pessoas
nesse recorte, que abraça a população idosa, gestantes, puérperas,
profissionais de saúde, professores, agentes de segurança pública, população
carcerária, deficientes, pessoas com doença crônica, indígenas e outros.
Agora, o Ministério da Saúde
afirmou que a vacina ficará disponível durante todo o ano nos postos de saúde,
na tentativa de se aproximar na meta de 90% do público prioritário vacinado. O
ministério também estrutura já para o próximo mês campanhas de vacinação dentro
das escolas. Padilha também tem reforçado com Lula e o vice Geraldo Alckmin o
pedido pela presença ativa dos dois nas campanhas.
A campanha de vacinação em
igrejas é vista como um ponto importante por especialistas, pela possibilidade
de alcançar um público que pode enfrentar resistências à imunização.
Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella
Ballalai destaca que ação precisa alcançar também a televisão para alcançar
parte significativa da população e entrar no terreno de combate à
desinformação.
— Não podemos achar que todo
mundo se informa pelas redes sociais. Mas é importante ocupar esse espaço
também, porque estudos mostram que é por ali que se informam as pessoas que não
se vacinam ou têm dúvidas sobre a vacinação — afirmou a médica, ressaltando
ainda que a atuação precisa ser segmentada. — A estratégia para uma cidade
grande não é igual para uma aldeia indígena. O ministério tem que entender qual
é a preocupação da região sobre a vacinação. Por que as pessoas daquela
localidade não vão nos postos de saúde. É o calor? O horário de funcionamento?
Violência?
Em sua passagem de dois anos no
ministério, Nísia enfrentou dificuldades para atingir as metas de vacinação, um
dos pontos usados nos bastidores do governo para justificar a sua saída do
comando da pasta. A avaliação é que ela fez um bom trabalho para recuperar os
níveis de vacinação do país diante do cenário herdado da gestão de Jair
Bolsonaro, mas pecou nas estratégias de comunicação, foco de Padilha agora.
Também está na lista do ministro
melhorar o acesso a consultas e cirurgias no SUS, outro ponto que provocou
insatisfação de Lula com Nísia. Padilha pretende avançar com o Programa Mais
Acesso a Especialistas, que prevê medidas para tornar mais rápido o acesso da
população ao atendimento em cinco áreas com mais demanda (oncologia,
oftalmologia, cardiologia, ortopedia e otorrinolaringologia). Lula tem apostado
no programa como uma marca para seu terceiro mandato e tem cobrado
insistentemente resultados, o que ainda não ocorreu. Procurada, Nísia não
respondeu.
Como o Globo mostrou, dados
obtidos junto ao Ministério da Saúde via Lei de Acesso à Informação mostram que
pacientes precisam aguardar, em média, 52 dias para realizar uma cirurgia pelo
SUS. Além disso, o levantamento também mostra que lacunas de atendimento
especializado no país, com pacientes que precisam viajar longas distâncias para
se consultar com especialistas pelo SUS.
Logo na primeira semana à frente
da pasta, Padilha anunciou a expansão do programa Mais Médicos, tentando usá-lo
para reduzir o gargalo de especialistas. Dentro dessa ideia, minimizar as
demandas da atenção primária teria impacto na redução da necessidade de
atendimentos especializados e, consequentemente, amenizaria o problema das
filas.
O senador Hiran Gonçalves
(PP-RR), médico e presidente da Frente Parlamentar de Medicina, afirma que o
governo "vai na direção errada" ao seguir investindo em atenção
primária. A explicação dada pelo parlamentar é que hoje faltam vagas para
formar médicos em áreas como cardiologia, neurologia e ortopedia, gargalos de
atendimento no SUS, enquanto há formação suficiente de médicos para a atenção
primária.
— Mas isso é complexo de
resolver. Sobra vaga em medicina da família, mas cardiologia, ortopedia,
oftalmologia, neurologia, não têm vagas, justamente onde mais precisa de
especialista no SUS. Tem que fazer trabalho junto com o Ministério da Educação
para a residência médica conseguir preparar mais especialistas — disse Hiran.
Dengue preocupa
Nas primeiras semanas, Padilha
também se reuniu com membros do Conselho Nacional de Secretários de Saúde
(Conass) e com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde
(Conasems). Ele ouviu dos secretários um pedido por mais recursos, em especial
para cirurgias eletivas, habilitações de serviços e melhorias da rede
assistencial nos estados.
O ministro ouviu ainda um grupo
de especialistas em dengue, ponto de preocupação do ministério diante da ameaça
do tipo 3 do vírus, que pode causar nova explosão de casos. Há, ainda, o
desafio de aumentar o índice de vacinação. A necessidade de mudanças na
estratégia empenhada até aqui já foi identificada pela equipe.
Na ocasião, Padilha abordou a
situação da dengue, com atenção especial para São Paulo, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul. O ponto principal discutido foi o manejo clínico dos pacientes e
o diagnóstico, que pode evitar o agravamento dos quadros. Houve, ainda,
encaminhamentos sobre a possibilidade do aumento de internações por dengue.
— Já estamos com o pico
acontecendo em algumas regiões. Não dá para esperar. O grande ponto agora é a
circulação dos três sorotipos e algumas regiões com maior conversão de casos
graves. Existe a necessidade de se preparar para um maior número de internações
daqui para frente — afirmou presidente do Conass Fábio Baccheretti.
Fonte: Folha de Pernambuco.