Contag liberou “lote” de 34 mil descontos irregulares no INSS em 2023, diz PF


 

Uma auditoria realizada no INSS constatou que a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares) conseguiu que, em 1º de novembro de 2023, o órgão desbloqueasse, de uma vez só e de forma irregular, descontos em 34.487 benefícios pagos a aposentados e pensionistas.

Trechos dessa fiscalização foram revelados nesta segunda-feira (28), com a divulgação, pela Justiça Federal, da decisão do juiz Frederico Botelho de Barros Viana, da 15ª Vara Federal de Brasília, que autorizou busca e apreensão sobre a Contag e seus dirigentes com base em investigações da Polícia Federal.

A fiscalização interna do INSS também verificou que esses descontos descumpriram as regras legais para a realização dos descontos no contracheque e repasse dos valores à Contag, que exigem a comprovação de autorização de cada uma das pessoas atingidas.

O desbloqueio foi autorizado dentro do INSS a partir de um pedido enviado ao órgão em julho de 2023, assinado pelo presidente da Contag, Aristides Veras dos Santos, e mais dois secretários da entidade.

No documento, eles informavam ao INSS que os aposentados e pensionistas listados estavam tendo dificuldades para desbloquear os descontos no aplicativo do órgão governamental por falhas técnicas. O instituto de Seguridade Social aprovou os descontos, mas a auditoria do próprio INSS feita posteriormente verificou que apenas 213 pessoas aguardavam, de fato, o desbloqueio.

“Houve desbloqueio de 34.487, sem avaliação pelo INSS, sendo que do total de benefícios desbloqueados, havia pedidos efetuados pelos beneficiários, seja de bloqueio, desbloqueio ou mesmo de exclusão de desconto associativo”, afirmou o relatório da auditoria.

Outra auditoria, realizada pela Controladoria-Geral da União (CGU), constatou que a Contag recebeu, entre janeiro de 2019 e março de 2024, R$ 2 bilhões de descontos de aposentados e pensionistas do INSS.

A Contag foi uma das 11 entidades alvos da operação da Polícia Federal que, na semana passada, prendeu cinco pessoas, e cumpriu 211 mandados de busca e apreensão em 34 municípios. Por causa da operação, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi demitido.

A investigação apura o desconto ilegal de R$ 6,5 bilhões de aposentados e pensionistas, entre 2019 e 2024. Valores que variavam de R$ 20 a R$ 70 por mês eram descontados do contracheque e repassados automaticamente a sindicatos e associações, sem que os beneficiários atingidos soubessem ou tivessem autorizado os descontos.

Em nota divulgada após a operação da PF, a Contag se colocou à disposição para colaborar com as investigações e defendeu “a total transparência do processo investigatório e apuração devida dos fatos”. “Ao longo dos seus 61 anos, a CONTAG sempre atuou com ética, responsabilidade e tem se empenhado ativamente no aperfeiçoamento da gestão e na fiscalização dos projetos e convênios que administra, sempre em conformidade com as normas legais”, afirmou.

Sobre os problemas apontados, a Contag afirmou à Agência Brasil nesta segunda-feira (28) que não houve irregularidades e que os aposentados e pensionistas “autorizam o desconto da sua contribuição associativa para o Sistema Confederativo”.

Na decisão que autorizou buscas contra os dirigentes da Contag, o juiz citou os motivos da PF para a medida. “A decisão do INSS em outubro de 2023 de autorizar o desbloqueio em lote para atender à Contag foi tomada com base em justificativas que se mostraram infundadas e contrárias à legislação vigente”.

A investigação da PF ainda citou relatórios de inteligência financeira do Coaf – que rastreia movimentações suspeitas – que apontam a saída de R$ 26,4 milhões para federações de trabalhadores, sindicatos, empresas de turismo, eventos e culinária, além de pessoas físicas.

Uma das empresas investigadas, sediada em São Bernardo do Campo (SP), tem 12 veículos, “sendo a maioria de aquisição recente e de alto padrão”, segundo a PF. Outra, que atua com locação e venda de estruturas para eventos, com sede em Brasília, recebeu R$ 843,6 mil da Contag. Outra do setor de alimentação, também com sede na capital federal, recebeu R$ 737,8 mil da entidade. Todas as empresas e seus sócios são investigados pela PF.

“Analisando o caso concreto, observa-se das informações expostas pela autoridade policial, a existência de indícios seguros do envolvimento dos investigados responsáveis pela Contag, entre 2019 e 2024, realizaram (e continuam promovendo) descontos associativos indevidos de milhares de aposentados e pensionistas do INSS, ação que pode ter ocasionado enriquecimento ilícito dos envolvidos, com possível ocultação de patrimônio e de movimentações financeiras (arts. 299 e 304 do CP e art. 1º da Lei nº 9.613/98), sem os quais não seria possível a prática do crime”, escreveu o juiz Frederico Botelho de Barros Viana na decisão de busca e apreensão.

Fonte: Gazata do Povo

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