“A Redenção de Cam” (1895), do pintor brasileiro Modesto Brocos, é
uma obra que simboliza a ideologia racista do embranquecimento que dominou o
Brasil após a abolição.
No quadro, uma avó negra ergue as mãos ao céu agradecendo porque seu neto
nasceu de pele clara. A mãe, mestiça, segura o bebê branco ao lado do pai
branco.
O embranquecimento populacional foi
um projeto político, social e cultural que marcou profundamente o Brasil entre
o final do século XIX e boa parte do século XX. Após a abolição da escravidão,
em 1888, a elite brasileira passou a defender a ideia de que o país só seria
considerado “moderno” e “desenvolvido” se sua população se tornasse mais
parecida com a europeia — tanto em aparência quanto em cultura.
Para isso, o Estado incentivou a vinda
de imigrantes europeus, como italianos, alemães e portugueses, oferecendo
terras, salários e apoio que nunca foram dados à população negra recém-liberta.
A intenção era que, ao longo das gerações, casamentos e misturas fossem
“clareando” a população, reduzindo a presença negra e indígena no país.
Além do incentivo à imigração, o
embranquecimento também se manifestou no apagamento da cultura afro-brasileira,
que era criminalizada, perseguida e vista como inferior. Práticas como
capoeira, religiões de matriz africana, ritmos musicais e até modos de vestir
foram atacados, enquanto elementos da cultura europeia ganharam status de
“civilizados”.
O discurso do embranquecimento
também influenciou a ciência da época, com teorias racistas que colocavam
pessoas brancas como superiores. Essas ideias sustentaram políticas públicas,
comportamentos sociais e estereótipos que continuam afetando o Brasil até hoje.
O resultado foi a construção de
um país que tentou negar sua verdadeira identidade, desvalorizando povos que
formaram sua base cultural. Mesmo assim, as populações negra e indígena
resistiram, mantiveram suas tradições, fortaleceram movimentos sociais e
reivindicaram sua presença na história.
Entender o embranquecimento é
fundamental para compreender o racismo estrutural no Brasil e para valorizar a
diversidade que realmente constrói a identidade brasileira. Somente
reconhecendo esse passado é possível avançar na luta por igualdade, respeito e
justiça racial.


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