Comemorado em 20 de novembro, o
Dia da Consciência Negra carrega uma profunda carga de simbolismo, memória,
luta e resistência de um povo historicamente violentado e discriminado. Essa
discriminação foi construída socialmente a partir de características físicas —
como a maior produção de melanina, responsável pela pele negra — que surgiram
por adaptação evolutiva ao clima de regiões de forte incidência solar. Apesar
de ser um traço biológico, ele foi usado como justificativa para hierarquizar pessoas
e sustentar práticas racistas ao longo dos séculos.
Embora tenha sido instituído como
feriado nacional pela Lei nº 14.759/2023, a luta pela consciência negra no
Brasil é muito anterior. Próximo à abolição da escravatura, em 1888, diversos
movimentos já reivindicavam o reconhecimento da dignidade e dos direitos da
população negra. Em 2011, a Lei nº 12.519 oficializou o dia 20 de novembro —
data da morte de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo do Brasil — como o
Dia da Consciência Negra, com o objetivo de promover reflexão sobre a presença,
a história e as contribuições das pessoas negras para o desenvolvimento do
país. Contribuições essas que, muitas vezes, foram invisibilizadas ou
apropriadas por pessoas brancas ao longo da história.
Entre os episódios mais marcantes
de apagamento histórico está o projeto de embranquecimento populacional,
adotado no Brasil entre os séculos XIX e XX. Baseado em teorias
pseudocientíficas e profundamente racistas, esse projeto incentivou a imigração
europeia com a intenção declarada de “melhorar” a composição racial do país. Ao
mesmo tempo, a população negra recém-liberta foi abandonada à própria sorte,
sem acesso à terra, moradia, educação ou trabalho digno. Esse processo levou
inúmeras pessoas negras a migrarem para as cidades, onde se tornaram maioria
nas primeiras favelas e cortiços, vivendo em condições precárias de saúde e
saneamento.
Mesmo com os avanços no debate
sobre racismo e com o fortalecimento da luta antirracista nos últimos anos, o
racismo velado permanece enraizado na sociedade. Muitas pessoas, mesmo não se
considerando racistas, reproduzem expressões, comportamentos e discursos
carregados de preconceito, reforçando desigualdades históricas e contribuindo
para a perpetuação da discriminação estrutural.
Lucas M. Silva


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