Nas férias escolares, quando as crianças passam mais tempo
conectadas a celulares e jogos online, o risco de crimes cibernéticos se
intensifica silenciosamente. O ambiente virtual, muitas vezes visto como um
refúgio de lazer e distração, transforma-se em um terreno fértil para criminosos
que agem com astúcia e malícia. De acordo com a Delegacia de Repressão aos
Crimes Cibernéticos de Pernambuco, há um aumento significativo de casos de
aliciamento, extorsão sexual, incentivo à automutilação e participação em
desafios perigosos justamente nos períodos de recesso, como janeiro e julho.
“Nenhum pai deixaria o filho conversando com estranhos pela
janela de casa. Então, por que permitir esse contato livre no ambiente
virtual?”, questiona o delegado Heronides Menezes, titular da delegacia de
Repressão aos Crimes Cibernéticos .
Segundo ele, os aliciadores virtuais têm como alvo principal
crianças e adolescentes entre 10 e 16 anos. Esses criminosos iniciam o contato
como “amigos”, oferecendo presentes digitais, como as populares skins de jogos
e ganhando confiança até avançarem para pedidos de fotos íntimas, informações
pessoais ou propostas de encontros. O crime, conhecido como grooming, tem
crescido de forma alarmante, especialmente entre os jovens que frequentam
plataformas como Discord, Instagram e jogos online com chats ativos.
Janela aberta para o crime
“Qualquer criança que tenha acesso a uma plataforma digital
com recurso de conversa já é uma vítima em potencial”, alerta o delegado. O
perigo se intensifica porque muitos pais não acompanham de perto o que os
filhos fazem no ambiente virtual. A liberdade digital sem supervisão pode se
tornar uma porta aberta para abusos.
Menezes explica que o risco não se limita apenas ao assédio
sexual. “Temos registros de grupos que incentivam a automutilação ou desafios
de risco físico extremo. São redes de comportamento sádico, que se alimentam do
sofrimento alheio”, completa.
Supervisionar é dever legal
O delegado é enfático ao declarar que a privacidade no
ambiente digital deve ser contestada quando envolve indivíduos menores de
idade. “Até os 18 anos, os pais têm o dever legal de supervisionar o que os
filhos acessam. Se uma criança não permite que os pais toquem no celular, há
algo errado”, alerta.
Entre os sinais que podem indicar que algo não vai bem,
estão mudanças bruscas de comportamento, como isolamento, agressividade,
alteração de humor e apego exagerado ao celular. O ideal, segundo ele, é que
plataformas de comunicação online, como o Discord, sejam evitadas até pelo
menos os 16 anos.
Além da vigilância, ferramentas como o controle parental
devem ser ativadas. Aplicativos e redes sociais, como o Instagram, já oferecem
mecanismos de supervisão familiar, que permitem visualizar atividades, bloquear
contatos e restringir acessos.
Como agir e onde denunciar
Quando o crime já aconteceu ou está em curso, é essencial
que os pais não apaguem as conversas ou quebrem o contato de forma brusca.
“Quanto mais dados forem preservados como mensagens, perfis, URLs maiores as
chances de identificação do criminoso”, explica Menezes. Prints isolados,
segundo ele, dificultam o rastreamento e a atuação da polícia.
A Polícia Civil pode, inclusive, oficiar plataformas
digitais para obter informações, mesmo que o perfil usado pelo criminoso seja
falso. Para isso, as denúncias podem ser registradas:
•Na Ouvidoria da Secretaria de Defesa Social (SDS)
•Pelo site da Polícia Civil de Pernambuco (com boletim online)
•Nas redes sociais da corporação
•Na plataforma SaferNet
•Diretamente na Delegacia da Criança e do Adolescente
Educação e prevenção
Além das ações de investigação, a Delegacia de Crimes
Cibernéticos realiza palestras preventivas em escolas públicas e privadas,
mediante solicitação.
Ele ressalta que a melhor forma de proteger os jovens ainda
é o diálogo constante e o acompanhamento responsável. “Não se trata de
vigilância opressora, mas de cuidado. Assim como protegemos nossos filhos no
mundo físico, devemos protegê-los também no mundo digital, que é tão real
quanto.”
Dicas para os pais durante as férias escolares:
•Ative o controle parental nos dispositivos eletrônicos
•Conheça os jogos e aplicativos utilizados pelas crianças
•Mantenha o diálogo aberto e franco sobre segurança digital
•Evite que menores tenham acesso a plataformas com chats abertos
•Esteja atento a mudanças bruscas de comportamento
•Nunca permita que crianças conversem com estranhos na internet
Fonte: Diário de Pernambuco.
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