As marcas de violência, o medo e
feridas que levam tempo para sarar marcam as vidas das vítimas de violência
doméstica em Pernambuco que sofrem com perseguições e ameaças, mesmo após
denúncias às autoridades. Diante disso, nesta segunda-feira (21), o Tribunal de
Justiça de Pernambuco (TJPE) lança o Medida Protetiva Eletrônica,
para agilizar a proteção às mulheres vítimas de violência doméstica.
De acordo com o TJPE, a vítima
poderá requerer diretamente pelo celular ou por um computador uma Medida
Protetiva de Urgência (MPU) para se proteger de seu agressor. Imediatamente o
pedido chegará a um juiz. A Justiça destaca que, com isso, não será necessário
sair de casa para ir a uma delegacia ou contratar advogado.
Uma ferramenta que já está em uso
pelas vítimas de violência doméstica é a Unidade Portátil de Rastreamento
(UPR), que serve como forma de proteção e alerta caso o agressor se aproxime
além do permitido por lei.
Em Pernambuco, 286 vítimas
utilizam o dispositivo, que funciona por meio de um sensor de aproximação.
Apesar do número de mulheres que utilizam este equipamento parecer alto, um
levantamento do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) aponta que o uso
da UPR ainda está abaixo da capacidade instalada, com 736 agressores
monitorados e menos de 300 vítimas com o dispositivo.
O estado tem capacidade
contratada para até 1.200 unidades em operação. Diante disso, a
Corregedoria-Geral do Ministério Público publicou uma recomendação aos
promotores de Justiça para reforçar a eficácia das medidas protetivas
destinadas a vítimas de violência doméstica e familiar.
A recomendação, assinada pela
corregedora-geral do MPPE, procuradora de Justiça Maria Ivana Botelho, também
prevê a solicitação do uso de dispositivos de rastreamento eletrônico pelas
vítimas e a priorização da conversão de prisão em flagrante em prisão
preventiva nos casos em que houver risco evidente de novas agressões.
No texto, a procuradora leva em
consideração as recentes alterações na Lei Maria da Penha, que passou a
permitir que o agressor seja monitorado eletronicamente e a vítima receba uma
UPR. A medida vale como medida protetiva de urgência.
“Cabe ao Ministério Público zelar
pela legalidade, aplicação de medidas cautelares, pela efetividade da proteção
de urgência em favor das vítimas e integridade do custodiado”, afirmou Maria
Ivana Botelho.
Em entrevista ao Diario de
Pernambuco, a procuradora explicou que o MPPE decidiu emitir a recomendação
após se deparar com a lacuna entre os números de vítimas que usam a UPR e os
dispositivos ainda disponíveis.
“Quando a gente tomou
conhecimento do número grande de dispositivos que estão ociosos, a gente fez a
recomendação, porque esse é mais um motivo para dar mais segurança para as
vítimas. Elas ficam com o com esse dispositivo e, se houver a presença do do
agressor, elas clicam no botão e de imediato a rede de segurança é acionada.
Pode ser a guarda municipal, a Polícia Militar, Polícia Civil, entre outros
diversos organismos que atuam nessa questão preventiva de violência”, detalha
Maria Ivana Botelho.
No entanto, a corregedora-geral
destaca que a ausência de determinação judicial é um dos principais obstáculos
para a ampliação do uso da UPR. Por isso, recomenda que os promotores
solicitem, de forma expressa nos autos, que as decisões de monitoramento
eletrônico dos agressores sejam acompanhadas da disponibilização do dispositivo
de segurança para as vítimas.
A procuradora também esclareceu
que “com essa recomendação, todos os membros do Ministério Público ficaram
cientes e espera-se que eles passem a pedir a entrega desse dispositivo às
vítimas nas audiências de custódia”.
A recomendação também enfatiza a
importância de comunicar previamente a vítima ou seu responsável legal antes de
conceder liberdade provisória ao agressor. A orientação é que essa comunicação
seja feita por ligação telefônica, mensagem de texto ou aplicativo de
mensagens, garantindo à vítima tempo hábil para adotar medidas de proteção
adicionais, se necessário.
Mais de 27 mil casos de violência
em seis meses
Pernambuco registrou 27.767
mulheres vítimas de violência doméstica e familiar no primeiro semestre de
2025, de acordo com dados da Secretaria de Defesa Social (SDS-PE).
O interior concentrou 14.454
vítimas no semestre, o equivalente a cerca de 52% do total estadual; a Região
Metropolitana do Recife respondeu por 8.424 casos, aproximadamente 30%; e a
capital registrou 4.889 ocorrências, algo em torno de 18% do volume
contabilizado no período.
Na série mensal, março apresentou
o maior número de vítimas, com 5.197 registros, enquanto junho teve o menor
patamar do semestre, com 4.321. Os demais meses tiveram os seguintes totais:
janeiro, 4.784; fevereiro, 4.281; abril, 4.637; e maio, 4.547.
“A gente tem dentro do Ministério Público um
núcleo de apoio que abrange as vítimas dos mais diversos tipos de violência. A
gente vê chegar na Justiça os casos de violência física e a pior forma dela,
que é o feminicídio. Mas tem muitas outras, como a violência psicológica, a
emocional e a financeira. Todas elas podem terminar em sua forma mais grave,
que é a violência física”, alerta a procuradora Maria Ivana Botelho.
Fonte: Diário de Pernambuco.
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