Mauro Cid diz que Bolsonaro recebeu, leu e pediu alterações na minuta do golpe


 


O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou nesta segunda-feira (9) a fase de interrogatório dos réus acusados de planejar um golpe de Estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder após a derrota nas eleições de 2022.

Ao todo, oito pessoas são investigadas por integrar o chamado “núcleo crucial” da suposta tentativa de ruptura institucional.

Entre os réus estão militares de alta patente, ex-ministros e o próprio Bolsonaro, apontados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como responsáveis por articular medidas para invalidar o resultado eleitoral.

Mauro Cid é interrogado por Alexandre de Moraes

Ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid reafirmou ao ministro Alexandre de Moraes que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu, leu e pediu alterações em uma minuta golpista para anular o resultado das eleições.

Cid é o primeiro réu no processo de tentativa de golpe interrogado pelo STF nesta segunda-feira, 9.

Ele está sendo ouvido antes por ter fechado acordo de delação.

Segundo o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro "enxugou" o documento, que inicialmente previa as prisões de diversas autoridades do Judiciário e do Congresso, como ministros do STF e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado.

"Ele de certa forma enxugou o documento. Basicamente retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor (Alexandre de Mores) ficaria como preso. O resto...", afirmou Mauro Cid.

Moraes brincou: "O resto foi conseguindo um habeas corpus."

Mauro Cid admite ter tido conhecimento dos planos golpistas

Logo no início do depoimento, Cid foi questionado por Moraes se a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, era verdadeira.

O tenente-coronel não respondeu objetivamente, mas declarou ter conhecimento dos planos golpistas. "Eu presenciei grande parte dos fatos, mas não participei".

Mauro Cid também negou ter sido pressionado ou coagido pelas autoridades competente ao prestar depoimentos no âmbito do acordo de colaboração premiada firmado no inquérito do golpe.

Áudios da revista Veja

Cid foi questionado por Moraes sobre os áudios publicados pela revista Veja nos quais o militar e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro se queixava dos procedimentos da Polícia Federal (PF) e do próprio magistrado na condução das investigações.

"Eles (os policiais) queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu. Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a ver", disse Cid nos áudios vazados.

Ao responder à pergunta de Moraes nesta segunda-feira, Cid afirmou que os áudios foram vazados sem o seu consentimento e se tratavam de "um desabafo de um momento difícil que eu e minha família estávamos passando".

O tenente-coronel atestou diante de Bolsonaro e de outros delatados que "em nenhum momento houve pressão" da PF.

"O que houve é: eles tinham uma linha investigativa e eu tinha outra visão do que aconteceu dos fatos. Houve esse jogo de depoimentos e respostas e perguntas. E realmente um pouco da frustração do que eu estava contando não estar dentro da linha investigatória da Polícia Federal", afirmou.

Segundo Cid, as acusações foram feitas em um contexto de vazamento de informações dos seus familiares, dificuldades financeiras e destruição da sua carreira militar.

"O que gerou uma crise pessoal, até mesmo psicológica, muito grande. O que nos leva a certos desabafos com amigos, com pessoas próximas, nada de maneira oficial, de maneira acusatória", disse.

Fonte: Jornal do Commercio.

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