O consumo de alimentos
ultraprocessados tem representado uma perda financeira e humana
significativa no Brasil, de acordo com relatórios do pesquisador Eduardo
Nilson, do Observatório de Hábitos Alimentares da Fiocruz Brasília e do Núcleo
de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde Pública (Nupens/USP).
Os ultraprocessados são aqueles
produzidos com pouco ou nenhum alimento in natura e nutricionalmente
desbalanceados, como biscoitos recheados, salgadinhos de pacote, refrigerantes
e macarrão instantâneo.
Nos estudos, Nilson reuniu dados
sobre a quantidade de mortes atribuíveis aos ultraprocessados e o impacto na
economia do país.
De acordo com o pesquisador, em
2019, cerca de 57 mil mortes prematuras foram atribuídas ao consumo de
alimentos ultraprocessados em todo o território nacional - 10,5% das
mortes do país naquele ano. Esse número representa o agravamento das doenças
associadas a essa categoria e equivale a 6 mortes por hora, ou 156 mortes por
dia.
Só no estado de Pernambuco,
em 2019, o número de mortes chegou a 2.539.
Consumo de ultraprocessados custa
mais de R$ 10 bi por ano ao Brasil
Eduardo Nilson investigou, ainda,
a relação do consumo de alimentos ultraprocessados na população adulta do
Brasil com os custos diretos e indiretos que a obesidade, diabetes e
hipertensão representam para a economia do país.
De acordo com ele, por ano,
o custo dos ultraprocessados ultrapassa os R$ 10 bilhões. O valor inclui os
custos diretos de tratamentos no SUS, os custos previdenciários por
aposentadoria precoce e licença médica e as perdas econômicas com as mortes por
todas as causas atribuíveis ao consumo de ultraprocessados.
Desses:
R$9,2 bilhões milhões/ano são
por mortes prematuras, custos preveníveis que representam as perdas
econômicas pela saída de pessoas em idade produtiva do mercado de trabalho por
todas as causas de morte;
R$933,5 milhões/ano são os custos
com o tratamento no SUS (hospitalares, ambulatoriais e com o programa
Farmácia Popular) da diabetes, hipertensão e obesidade;
R$263,2 milhões/ano são custos
previdenciários (aposentadoria precoce e licenças médicas) e custos
por absenteísmo (internações e licenças médicas).
O estudo aponta que o custo dos
ultraprocessados representa o dobro do que é investido no Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) todos os anos e 300x mais do que é investido em
Cozinhas Solidárias, por exemplo.
Pesquisador Eduardo Nilson pontua
que, no Brasil, tendência de aumento no consumo de ultraprocessados afeta
famílias de menor renda e crianças e adolescentes - GUGA MATOS/JC IMAGEM
“No Brasil observa-se uma
tendência de aumento no consumo de ultraprocessados ao longo das últimas
décadas, particularmente nas famílias de menor renda e entre crianças e
adolescentes”, explica o pesquisador no relatório.
Em Pernambuco, os custos
estimados da mortalidade prematura atribuíveis ao consumo de produtos
ultraprocessados em 2019 foi de mais de R$ 400 milhões.
Foram considerados dados do SUS e
do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). O valor é a soma de custos
diretos - como hospitalização e medicamentos para o diabetes, a hipertensão e a
obesidade - e indiretos - como benefícios previdenciários oficiais e
absenteísmo por licenças médicas e internações hospitalares.
“Esses dados, junto com os de
estudos anteriores, mostram a urgência de políticas públicas voltadas para a
redução do consumo de produtos ultraprocessados, como tributação
majorada/reforma tributária, a rotulagem nutricional e a regulação da venda e
marketing desses produtos”, afirma o pesquisador em seu relatório.
Posicionamento da Associação
Brasileira da Indústria de Alimentos
Em nota, a Associação
Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) esclareceu que o documento
não se trata de um estudo da Fiocruz, mas um relatório elaborado pelo
pesquisador a pedido da organização ACT.
A ABIA afirma que o relatório é
"superficial" e que "se baseia em dados de risco relativo
extraídos de estudos já classificados como de baixa qualidade".
Veja a nota na íntegra:
"É importante esclarecer que
o documento em questão não se trata de um estudo da Fiocruz, mas sim de um
relatório elaborado por um pesquisador a pedido da ACT, uma ONG que, de forma
constante, critica a indústria. Trata-se de um relatório superficial, que se
baseia em dados de risco relativo extraídos de estudos já classificados como de
baixa qualidade, os quais não foram realizados no Brasil e não incluem
informações específicas sobre o país. Portanto, o relatório não reflete a
realidade do consumo da população brasileira.
Além disso, o que classificam
como "alimento ultraprocessado" não possui uma definição clara,
abrangendo mais de 5.700 itens produzidos pelas indústrias brasileiras. Entre
eles estão produtos como pão, requeijão e iogurte, compondo uma lista extensa e
diversificada de alimentos que pouco têm em comum.
Causa preocupação e indignação a
disseminação de alegações à sociedade brasileira que atribuem a mais de 5.700
alimentos, produzidos por 41 mil indústrias no país e rigorosamente
regulamentados e aprovados por órgãos como a Anvisa e o Ministério da
Agricultura, a responsabilidade direta por doenças e mortes.
O relatório afirma que “não há
consumo seguro” desses alimentos, mesmo assumindo que “ainda não há estudos que
estimam o risco relativo e a relação dose-resposta para todos os desfechos de
saúde associados ao seu consumo”.
Os alimentos produzidos pela
indústria brasileira passam por rigorosos controles de qualidade e são
aprovados não só pelas autoridades nacionais, como internacionais também. A
confiabilidade desses alimentos é evidenciada pelo fato de o Brasil exportar
para mais de 190 países, cumprindo rígidos padrões sanitários de cada
mercado."
Fonte: Jornal do Commercio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário