A proporção
de mulheres mortas em conflitos em 2023 dobrou em relação ao ano
anterior, segundo um relatório da ONU que condena as estruturas
"patriarcais" que tornam a paz "inalcançável".
No relatório
anual sobre "Mulheres, Paz e Segurança", publicado na noite de
terça-feira (22), o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres,
descreve um "panorama sombrio".
"Os
direitos conquistados pelas mulheres ao longo de gerações estão ameaçados em
todo o mundo, o que compromete o papel crucial que a liderança e a participação
das mulheres podem desempenhar na promoção da paz", afirma.
"O
poder e a tomada de decisões continuam sendo quase exclusivamente monopólios
masculinos, e a ação para acabar com a impunidade dos autores de atrocidades contra
mulheres e meninas é alarmantemente lenta", acrescenta.
A primeira
cifra destacada no relatório é que a proporção de mulheres mortas em
conflitos armados em 2023 com relação a 2022. O dado vem de outro relatório da
ONU, que aponta que das pelo menos 33.443 mortes de civis registradas pela
organização em conflitos ao redor do mundo no ano passado (72% mais que em
2022), 4 em cada 10 eram mulheres, e 3 em cada 10 eram crianças.
"As
mulheres continuam pagando o preço das guerras dos homens", denunciou Sima
Bahous, chefe da ONU Mulheres, em um comunicado, citando "uma guerra mais
ampla contra as mulheres".
"O
ataque deliberado contra os direitos das mulheres não se limita aos países em
guerra, mas é mais mortal nesse contexto", explicou.
"O
mundo está mergulhado em uma terrível espiral de conflitos, instabilidade e
violência. Em 2023, foram registrados mais de 170 conflitos armados, e cerca de
612 milhões de mulheres e meninas viviam a menos de 50 quilômetros desses
conflitos, um aumento de 150% em comparação a apenas dez anos atrás",
afirma o relatório de Guterres.
Segundo
dados preliminares de um estudo da ONU Mulheres, nos 50 processos de paz em
andamento em 2023, as mulheres representaram apenas 9,6% dos negociadores,
13,7% dos mediadores e 26,6% dos signatários de acordos de paz e cessar-fogo
(proporção que cai para 1,5% sem a Colômbia).
"Enquanto
as opressivas estruturas sociais patriarcais e os preconceitos de gênero
impedirem metade de nossas sociedades, a paz continuará inatingível", diz
o relatório do secretário-geral.
Também houve
um aumento de 50% no número de casos (verificados pela ONU) de violência sexual
durante os conflitos em 2023.
Fonte: Diário de Pernambuco.
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