Brasil veta adesão de Venezuela e Nicarágua ao Brics por ordem de Lula


 

No primeiro dia de cúpula, os membros do Brics fecharam em Kazan, na Rússia, a lista de países convidados para a próxima expansão do bloco. Nicarágua e Venezuela chegaram a ser cogitadas, mas foram vetadas pelo Brasil. O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, chegou nesta terça-feira (22) de surpresa ao encontro e se reunirá nesta quarta-feira (23) com Vladimir Putin, em uma tentativa de reverter a situação, que diplomatas brasileiros acreditam ser quase impossível.

Os dois regimes - de Maduro e de Daniel Ortega - vêm intensificando a repressão a opositores e se consolidando cada vez mais no grupo das ditaduras mais cruentas da América Latina, ao lado de Cuba, o que vem afastando o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar da proximidade ideológica e estratégica.

O Brics, que originalmente era composto por Brasil, Rússia, Índia e China, incorporou a África do Sul, em 2011. Já a nova estratégia de expansão é liderada por chineses e russos. Pequim tenta transformar o bloco em uma aliança antiocidental, no contexto de sua disputa com os EUA. Moscou, por sua vez, busca reverter sua imagem de pária internacional e escapar do cerco americano e europeu, após a invasão da Ucrânia, em 2022.

No ano passado, o Brics aprovou a entrada de quatro novos membros: Irã, Etiópia, Egito e Emirados Árabes. Argentina e Arábia Saudita também foram convidadas. Os argentinos recusaram. Os sauditas ainda não decidiram. A expansão, que parece inevitável, dilui naturalmente o poder de Brasil e Índia, membros-fundadores. E a inclusão de autocracias e ditaduras deixa os brasileiros ainda mais isolados, como uma das poucas democracias do bloco.

Incômodo

A inclusão de novos membros indica que o Brics é cada vez mais comandado pelas duas maiores potências do bloco: Rússia e China, que apostam na expansão. As decisões até agora, porém, incluindo a ampliação, foram tomadas por consenso. No entanto, quanto mais países, mais difícil se torna a unanimidade.

Declarações de membros do governo brasileiro, como do assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, mostram um incômodo do Brasil com a expansão sem freio do Brics. "Acho que temos de ir devagar. Não adianta encher de países, senão daqui a pouco criamos um novo G-77", afirmou Amorim esta semana à CNN, em referência ao Grupo dos 77, coalizão gigantesca de países em desenvolvimento que atua na ONU - que hoje conta com 134 países.

Mesmo com a inquietação do Brasil, a ideia de uma nova expansão parece atropelar a cautela. Na cúpula de Kazan, Cuba e Bolívia foram convidadas a aderir ao Brics. Fecham a lista de possíveis membros Indonésia, Malásia, Usbequistão, Casaquistão, Tailândia, Nigéria, Uganda, Turquia e Belarus. Em contrapartida, diplomatas brasileiros conseguiram incluir nas negociações uma menção à reforma do Conselho de Segurança da ONU, velha bandeira do Itamaraty e da diplomacia indiana.

Afastamento

A lista de novos membros foi fechada pelos negociadores - diplomatas e ministros de Estado - e será levada para aval dos líderes, que se reúnem a partir de hoje. Lula participará por videoconferência, depois de ter cancelado a viagem à Rússia por causa de um acidente doméstico.

Os russos sondaram sobre a possibilidade de adesão de 33 países. Segundo negociadores do Itamaraty, a delegação brasileira barrou as pretensões de Ortega e de Maduro seguindo instruções diretas de Lula. Outros países também foram vetados, como o Paquistão, rival histórico da Índia.

Ortega vem se afastando de Lula desde que o brasileiro tentou interceder pela libertação de religiosos católicos presos pelo regime. O embaixador brasileiro foi expulso de Manágua em agosto Já com relação ao chavismo, até agora Maduro não apresentou as atas da votação que provariam a lisura de sua reeleição, em julho. Recentemente, aliados do ditador venezuelano chegaram a dizer que o presidente brasileiro seria um agente da CIA.

Fonte: Jornal do Commercio.

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