Imagem: Marcelo Camargo / Agência Brasil |
Em época de
eleição, a cada semana há a expectativa sobre quem tem mais chances de vencer e
ocupar o mais alto na disputa. As pesquisas eleitorais vêm como uma pista de
quem pode ser o escolhido. E com elas, a pergunta: quando sairá a próxima
pesquisa?
São esses
números que vão nortear as campanhas, mostrar as tendências aos eleitores e até
mudar os rumos do pleito. Na verdade, pesquisa eleitoral é uma questão de
ciência. Existe todo um protocolo com regras rígidas, não basta ir para a rua e
perguntar qualquer coisa para as pessoas.
Além de
mostrar as intenções de voto durante o período de eleições, a pesquisa
eleitoral também tem como função indicar erros e acertos de candidatos nas
campanhas, redirecionar estratégias e até forçar alianças. Faltando pouco menos
de um mês para as eleições de 2024, o Diario de Pernambuco explica
como funciona uma pesquisa eleitoral e conta "causos" de pesquisas em
pleitos antigos.
Segundo o
cientista político Hely Ferreira, existem dois tipos de pesquisa eleitoral: a
qualitativa e a quantitativa. A primeira é a realizada pelos candidatos. “A
pesquisa qualitativa dá um norte ao candidato do que deve apresentar, as
propostas, como fazer o guia eleitoral, porque ela mostra o que o eleitor quer
ouvir. Então, muitas vezes o candidato começa a fazer promessas que vão de
encontro ao que ele acredita, ao que o partido defende, mas ele diz isso no
intuito de atingir o eleitorado, já que a pesquisa mostra o que o eleitor tem
mais interesse”, pontua.
“Por
exemplo, o guia eleitoral vai hoje ao ar, no outro dia o instituto de pesquisa,
que trabalha para o candidato, vai ouvir o que foi que o eleitor gostou e o que
não gostou. E o próximo guia será montado a partir dessa pesquisa qualitativa”,
completa o cientista político. Já a quantitativa é a mais conhecida. Essa é a
pesquisa que se aguarda com expectativa por ser um termômetro tanto para os
eleitores quanto para candidatos de quem está à frente na disputa. É com esta
pesquisa que se sente como estão as intenções de voto nas regiões e “faz com
que o candidato que está fraco possa tentar se esforçar para crescer mais, e
quem está na frente, administrar o que já tem”, explica Hely Ferreira.
“A pesquisa é um cenário provável dentro de uma radiografia do momento. Nas
entrevistas, entre as perguntas estão: 'se a eleição fosse hoje, em quem você
votaria?' E outra é: 'se a eleição fosse hoje, em quem você não votaria?'”,
pontua. Ferreira explica, também, que essas perguntas são feitas porque “a
sociedade é dinâmica”, e em um momento o eleitor pode escolher votar em um
determinado candidato e no dia seguinte, não, por conta de fatos que acontecem
no dia a dia.
Isso pode
ser visto em eleições em que a pesquisa eleitoral apontou um candidato à frente
nas pesquisas, e no dia da eleição, com a abertura das urnas, o resultado foi
discrepante do estimado, justamente por conta de fatores externos. “Em
1986, Roberto Magalhães era candidato ao Senado, tinham duas vagas. A pesquisa
mostrava que Roberto era o senador mais votado do Brasil. A chegada de Arraes
para candidatura do governo do Estado dizendo que ‘faça como eu e vote nos
dois’, tirou a eleição de Roberto”, relembra.
Um outro
caso, também citado pelo cientista político, aconteceu em 1982, quando
Clodoaldo Torres foi o deputado estadual mais votado de Pernambuco. "O que
aconteceu? Ele levou quatro tiros em um comício, isso mudou o cenário",
relembra, sobre a vitória de Torres.
Uma pesquisa
é feita com um grupo pequeno de pessoas que, na estatística, ciência base para
as pesquisas eleitorais, é chamado de "amostragem". Esse grupo é
selecionado seguindo características que possam representar toda a população de
um local. O professor de estatística e coordenador da Fafire Inteligência de
Mercado, João Paulo Nogueira, explica como acontece essa seleção. "Eu
tenho 200 mil pessoas em uma cidade aptas a votar. Eu não vou entrevistar todas
elas, eu não tenho verba para comprar uma pesquisa desse porte. Então, eu vou
determinar quantas pessoas eu tenho que entrevistar de forma que eu consiga
garantir que o que essas pessoas vão falar é representativo para o total da
minha cidade", contextualiza.
Para que se
tenha uma garantia de que esse grupo de pessoas seja representativo, “cada
instituto de pesquisa tem uma metodologia específica para trabalhar e não
existe nenhum padrão. Se eu tenho em uma cidade em que 70% são mulheres, então
em minha amostra, eu vou procurar entrevistar 70% de mulheres também. Nisso,
você pode fazer o mesmo cálculo para pessoas de diferentes rendas, sexo, como
no exemplo, idade e assim por diante”, explica o professor.
Para
descobrir quais entrevistados serão selecionados, o professor João Paulo
Nogueira conta, ainda, que os institutos de pesquisa (como o IPEC, DataFolha e
Exatta) realizam um questionário com alguns selecionados e, a partir disso,
filtram quais pessoas se encaixam no esperado da população total da região
pesquisada.
Após a seleção
da amostragem e com a resposta dos questionários, os responsáveis a frente da
pesquisa realizam um cálculo matemático. É nesse cálculo, como explica o
professor, que se estimará o nível de confiança que se quer na pesquisa. “Por
exemplo, o nível de confiança padrão em pesquisas eleitorais é em torno de 95%.
Isso tem a ver com reprodutibilidade. Se eu fiz uma pesquisa e deu que
candidato X tem 25% de intenções de voto, considerando 95% de nível de
confiança, se eu fizer 100 pesquisas dessa, 95 delas darão o mesmo resultado
dentro da margem de erro”, afirma.
No mesmo
cálculo, se estipulará a margem de erro para essa pesquisa. “Se você quer uma
margem de erro de no máximo 3%, então você aplica na fórmula. E, nessas 95
pesquisas que eu fizer, meu resultado estará entre essa margem”, conclui.
Fonte:
Diário de Pernambuco
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