Imagem: Flávio Carvalho / WMP / Fiocruz |
A
Organização Pan-Americana de Saúde ( Opas), braço regional da Organização
Mundial de Saúde ( OMS), emitiu um alerta epidemiológico sobre a febre
oropouche, doença transmitida por mosquitos, em meio à sua expansão para novas
áreas e os primeiros relatos de morte no mundo, que ocorreram no Brasil.
A Opas
destaca que a doença era historicamente concentrada na região amazônica, mas
que “fatores como mudanças climáticas, desmatamento e urbanização não planejada
têm favorecido sua extensão em estados não-amazônicos do Brasil e para países
onde até agora não havia notificações de casos, como Bolívia e Cuba”.
A febre
oropouche é uma infecção causada pelo vírus Orthobunyavirus oropoucheense
(OROV) que se manifesta de forma semelhante à dengue e que é endêmica na região
Amazônica.
Neste ano, o
Brasil registrou, até o fim de julho, 7.286 casos em 21 estados, quase 80% nas
áreas endêmicas. Em 2023, porém, houve menos de 900 diagnósticos ao longo de
todo o ano.
Além do
crescimento da doença pelos motivos citados pela Opas, o Ministério da Saúde
explica, em nota, que o aumento nos números oficiais também está atrelado a uma
nova estratégia neste ano de enviar testes diagnósticos para todos os
Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) do país, “que passaram a testar
para oropouche os casos negativos para dengue, Zika e chikungunya”.
“Anteriormente, esse tipo de exame era feito apenas nos estados da região
Amazônica”, cita.
De acordo
com o alerta da Opas, o Brasil representa a vasta maioria (cerca de 90%) dos
8.078 casos identificados nas Américas em 2024. Há registros em apenas outros
quatro países: Bolívia (356); Peru (290); Colômbia e Cuba (ambos com 74 cada).
A Opas
destaca que a febre oropouche era geralmente descrita como leve, mas “a
expansão da transmissão e a detecção de casos mais graves ressaltam a
necessidade de maior vigilância e caracterização de possíveis manifestações
mais graves”.
No final de
julho, o Brasil confirmou dois óbitos pela doença, os primeiros no mundo. As
mortes foram de duas mulheres na Bahia, de 21 e 24 anos, que não eram gestantes
e não tinham comorbidades. A primeira morava na cidade de Valença e morreu em
27 de março. Já a segunda residia em Camamu, mas faleceu no dia 10 de maio em
Itabuna.
A pasta
investiga ainda um terceiro óbito, registrado no Paraná, mas cuja transmissão
ocorreu em Santa Catarina. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná
(SES-PR), que conduz a análise junto à pasta, a vítima era um homem de 59 anos
residente do município de Apucarana.
Em nota, a
Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde (Dive)
de Santa Catarina diz que apoia a investigação, que o registro ocorreu em abril
e que "foi estabelecido que o local provável da transmissão foi em Santa
Catarina, uma vez que o paciente teve registro de viagem ao Estado”. A febre
oropouche é transmitida principalmente pelo mosquito Culicoides paraenses,
conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, na região amazônica.
Nos locais
silvestres, outros insetos que podem disseminar o patógeno são o Coquilletti
diavenezuelensis e o Aedes serratus. Já em áreas urbanas, onde a circulação do
vírus é menos comum, o mosquito Culex quinquefasciatus também atua como um
vetor.
“Entre os
sintomas, estão febre súbita, dor de cabeça intensa, dores nas articulações e
nos músculos e, em alguns casos, erupção cutânea, fotofobia, diplopia (visão
dupla), náuseas, vômitos e diarreia. Os sintomas podem durar de cinco a sete
dias. A maioria das pessoas afetadas se recupera sem sequelas. Uma pequena
proporção pode necessitar de várias semanas para recuperação completa. Em raras
ocasiões, podem ocorrer casos graves com meningite asséptica”, diz a Opas.
Há testes
moleculares que podem confirmar a doença. Um desafio, porém, é que a
apresentação clínica é muito semelhante à de outras arboviroses, como dengue,
zika e chikungunya. Isso, atrelado à falta de vigilância em muitos países, leva
à “possibilidade de que os sistemas subestimem a frequência da doença”, alerta
a organização.
“A
Opas recomenda que os países das Américas fortaleçam a vigilância
epidemiológica e o diagnóstico laboratorial, especialmente para identificar
casos fatais e graves, assim como possíveis casos de transmissão vertical. Além
disso, é preciso expandir as campanhas de prevenção, reforçar a vigilância
entomológica e fortalecer as ações de controle vetorial para reduzir as
populações de mosquitos e maruins”, orienta.
Para a
população geral, diz ser recomendável a adoção de medidas preventivas, como
repelentes, roupas que cobrem pernas e braços e mosquiteiros de malha fina,
especialmente diante de surtos e por grupos vulneráveis, como gestantes.
Reportagem da Agência O Globo para a Folha de Pernambuco.
Disponível em: https://www.folhape.com.br/noticias/oms-faz-alerta-sobre-febre-oropouche-em-meio-a-expansao-da-doenca-e/353324/
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