A Câmara dos Deputados rejeitou,
por insuficiência de votos, na madrugada desta sexta (11), a perda de mandato
da deputada Carla Zambelli (PL-SP). Houve 227 votos a favor da perda do mandato
e 110 contra, com 10 abstenções.
Para aprovar a perda de mandato,
seriam necessários 257 votos. Com isso, a representação da Mesa Diretora contra
a deputada será arquivada.
Carla Zambelli foi condenada em
definitivo pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de reclusão por
participar de invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ela
está presa na Itália depois de fugir do Brasil em decorrência do trânsito em
julgado do processo no STF. O Supremo aguarda a extradição.
Parecer da CCJ
A Comissão de Constituição e
Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara aprovou nesta quarta-feira (10) parecer
do deputado Claudio Cajado (PP-BA) que recomendava a perda do mandato da
parlamentar pela “incompatibilidade fática absoluta do encarceramento em regime
fechado com o exercício do mandato”. "Como alguém pode exercer o mandato
estando recluso em regime fechado? O mandato exige presença, comparecer ao Plenário
e participar das comissões", disse.
Cajado citou jurisprudência do
STF, baseada no julgamento de ação penal contra o então deputado Nelson Meurer
em 2018.
A representação contra Carla
Zambelli foi apresentada pela Mesa Diretora em razão de comunicado do Supremo,
cuja interpretação da Constituição pela 1ª Turma definia a declaração de perda
do mandato pela Mesa.
No entanto, jurisprudência da
interpretação da Câmara sobre processos envolvendo parlamentares condenados em
definitivo amparam a análise pela comissão.
Documentos falsos
A 1ª Turma do STF condenou
Zambelli também a multa e indenização de R$ 2 milhões por ter participado como
“instigadora” das invasões dos sistemas por Walter Delgatti Neto e Thiago
Eliezer, presos no âmbito da Operação Spoofing.
Segundo o Ministério Público, no
começo de janeiro de 2023, houve 13 invasões dos sistemas do CNJ para inserir
16 documentos falsos, como mandatos de prisão, alvarás de soltura e ordem
judicial de bloqueio de ativos bancários, além de um mandado de prisão contra o
ministro Alexandre Moraes, do STF, emitido por ele próprio.
Parecer vencedor
A relatoria inicial do processo
contra Zambelli coube ao deputado Diego Garcia (Republicanos-PR), que
recomendava a manutenção do mandato, mas a CCJ o rejeitou.
Garcia argumentara que não havia
provas da participação direta da deputada na autoria dos crimes e que os autos
demonstrariam fragilidades de provas circunstanciais. Ele se baseou ainda em
depoimento de testemunha da deputada, o perito Anderson de Jesus Anchieta
Carvalho, que traçou um perfil de compulsão à mentira (mitômano) de Delgatti.
Defesa
O advogado de Zambelli, Fábio Pagnozzi, criticou a "fragilidade" das
provas que incriminam a deputada e ressaltou que a condenação se baseou no
depoimento questionável de Walter Delgatti, por ter alterado seis vezes o
próprio testemunho, conforme perícia contratada pela defesa. "Tudo o que a
deputada mais quer é que não seja cassada, para ela ter dignidade onde está
presa. Pois só mostrando à Justiça italiana que seus pares não a cassaram, ela
vai ter uma chance de ficar livre", disse.
Segundo Pagnozzi, Zambelli
comentou que pediria renúncia caso tivesse seu mandato mantido para não
incomodar os demais deputados. "A Carla Zambelli só quer dignidade."
O deputado Diego Garcia, relator de parecer vencido na CCJ, disse que produziu
um relatório técnico, que só não foi aprovado por haver tido troca de membros
da comissão antes da votação.
Segundo ele, não existem provas
contra a deputada Carla Zambelli nos autos do processo judicial. "Tudo o
que a acusação afirma estar no relatório policial, não se encontra lá. Uma
deputada da esquerda [que também acessou os autos] me disse que não poderia ir
contra o voto por eu estar falando a verdade", declarou.
Para a deputada Jandira Feghali
(PCdoB-RJ), vice-líder do governo, a decisão judicial pela perda do mandato
deveria ter sido colocada em prática por meio de decisão administrativa da
Câmara, e não ser levada para análise do Plenário. "Se não fosse uma
deputada já condenada, haveria sentido esse debate. Não tem mais, ela está
presa", disse.
O líder do PL, deputado Sóstenes
Cavalcante (RJ), defendeu que o Plenário não analisasse a cassação de Zambelli
considerando que, em uma semana, a Mesa Diretora poderia declarar a perda de
mandato por ela ter faltado a mais de 1/3 das sessões da Câmara neste ano,
ultrapassando o limite de faltas permitido pela Constituição. "Vamos
respeitar o mandato da deputada e, daqui a uma semana, deixar que a Mesa
resolva este assunto e não trazer esse problema para todos nós deputados",
afirmou. O deputado Júlio Lopes, a partir de parecer dos técnicos da Câmara,
afirmou que Zambelli só atingiria esse total de faltas no final de fevereiro de
2026.
Porém, a líder da Minoria,
deputada Chris Tonietto (PL-RJ), ressaltou que cabe à Câmara decidir sobre a
perda de mandato ou não. Segundo ela, a cassação perpetuaria a injustiça contra
Zambelli.
Fonte: Diário de
Pernambuco.


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