Um dos motivos que respaldaram a
decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de
decretar a prisão preventiva de Jair Bolsonaro na madrugada deste sábado, a
tentativa do ex-presidente de violar a tornozeleira eletrônica com um ferro de
solda teve uma série quatro versões para explicar o ato aparentemente
irracional.
Na decisão que decretou a prisão preventiva de Bolsonaro, Moraes diz que a
convocação de uma vigília de apoiadores do ex-presidente pelo senador Flávio
Bolsonaro (PL-RJ), prevista para a noite de sábado, somada à violação da
tornozeleira, configurariam “gravíssimos indícios da eventual tentativa de fuga
do réu Jair Messias Bolsonaro”.
O relator da ação penal da trama
golpista cita a violação da tornozeleira como um dos indícios de que o
ex-presidente planajeria uma fuga, que poderia ser realizada durante a
aglomeração de apoiadores nas imediações da residência de Bolsonaro.
O ex-presidente estava preso
preventivamente em sua casa, em Brasília, desde 4 de agosto, por ter
descumprido medidas cautelares impostas a ele, como a proibição de gravar
vídeos para apoiadores e de fazer uso de redes sociais, ainda que
indiretamente.
“O Centro de Integração de Monitoração Integrada do Distrito Federal comunicou
a esta Suprema Corte a ocorrência de violação do equipamento de monitoramento
eletrônico do réu Jair Messias Bolsonaro, às 0h08min do dia 22/11/2025. A
informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica
para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela
manifestação convocada por seu filho”.
1. Bateria
Mesmo antes da divulgação do vídeo em que a agente da Secretaria de Estado de
Administração Penitenciária do Distrito Federal avalia os danos ao equipamento
e conversa com Bolsonaro sobre a motivação, seus aliados afirmavam, sob reserva
ou mesmo publicamente, que sua intenção não era fugir e que o que Moraes
chamava de violação do equipamento poderia ter sido, na verdade, apenas o
esquecimento, por parte de Bolsonaro, de carregar o aparelho.
Essa versão foi desmentida ainda
na tarde de sábado, com a divulgação do vídeo feito pela diretora-adjunta da
Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape), Rita de
Cássia Gaio Siqueira, em que ela mostra o aparelho preso à perna de Bolsonaro
claramente danificado.
2. Curiosidade
O próprio Jair Bolsonaro diz à
diretora-adjunta da Seape, durante vídeo gravado após a violação da
tornozeleira, que aplicou ferro quente no equipamento por “curiosidade”.
No vídeo, gravado ainda na noite
de sexta para sábado, Rita de Cássia trava o seguinte diálogo com Bolsonaro:
— O senhor usou alguma coisa para
queimar isso aqui? — perguntou a policial.
— Meti ferro quente aí.
Curiosidade — responde Bolsonaro.
— Que ferro foi? Ferro de
passar?”
— Não, ferro de solda.
— Aquele que tem uma ponta? —
questiona a policial, ao que Bolsonaro confirma.
— O senhor tentou puxar a
pulseira também? — pergunta Rita de Cássia.
— Não, não, isso não — responde
Bolsonaro.
— Pulseira aparentemente intacta,
mas o case violado. Que horas o senhor começou a fazer isso, seu Jair? —
questiona novamente a policial.
— Lá pro final da tarde — diz o
ex-presidente.
3. Vergonha dos parentes
Durante a realização da vigília
com apoiadores de seu pai, na noite de sábado, o senador Flávio Bolsonaro
(PL-RJ) disse que o ex-presidente poderia ter tentado tirar a tornozeleira por
vergonha de ter de estar com o equipamento diante de quatro de seus irmãos, que
o visitaram na tarde de sábado.
"O Bolsonaro estava lá com
familiares dele, inclusive que vieram de São Paulo. Eu fico tentando imaginar
por que ele teria feito isso (danificado a tornozeleira). Eu acho que pode ter
sido ali algum ato de desespero dele, talvez, porque, não sei, eu estou aqui
conjecturando, pode ter sentido vergonha perante familiares dele que vieram em
São Paulo, os irmãos dele que vieram de São Paulo para cá e viram ele numa
situação como essa. E ele se indignou e tentou mexer na
tonozeleira",.afirmou Flávio Bolsonaro.
O senador negou que o
ex-presidente tivesse a intenção de fugir.
"Não consigo imaginar qual
seria a possibilidade do meu pai conseguir caminhar, talvez mais de 1 km de lá
até aqui com uma possível aglomeração que tivesse aqui nesse local que a gente
tá fazendo, onde já aconteceram várias outras vigílias e a gente tem a
esperança de que o povo está conosco", afirmou Flávio Bolsonaro.
4. Alucinação, paranoia e surto
No domingo, Bolsonaro disse,
durante uma audiência de custódia no STF, que teve uma alucinação de que
haveria uma escuta em sua tornozeleira eletrônica e também uma "certa
paranoia", que o motivaram a danificar o equipamento com um ferro de
solda. O ex-presidente disse que agiu sozinho e que o equipamento que usou já
estava em sua casa. Ao final do depoimento, a prisão preventiva de Bolsonaro
foi mantida.
"O depoente afirmou que
estava com 'alucinação' de que tinha alguma escuta na tornozeleira, tentando
então abrir a tampa", diz a ata da audiência, que durou meia hora neste
domingo.
Ainda na noite de sábado, essa
versão foi encampada pela deputada federal Bia Kicis (PL-DF). “Ele começou a
ouvir um barulho que vinha da tornozeleira. A tornozeleira começou a fazer um
barulho, ele achou estranho, achou que pudesse haver uma escuta naquela
tornozeleira, então ele a abriu. Ele podia ter cortado a alça, mas ele não
tentou tirar”, relatou a parlamentar na s redes sociais.
Além disso, Jair Bolsonaro
relatou na manhã deste domingo a seus médicos ter tido um quadro de “confusão
mental e alucinações” na noite de sexta-feira.
Em boletim anexado à manifestação
de sua defesa ao STF para explicar a violação da tornozeleira, os médicos do
ex-presidente dizem que o episódio pode ter sido resultado do efeito colateral
da Pregabalina, receitada a Bolsonaro pela médica Marina Pasolini, que não é
integrante da equipe que cuida do ex-presidente.
No documento, os médicos Claudio
Birolini e Leandro Echenique afirmam que o quadro foi "possivelmente
induzido pelo uso do medicamento Pregabalina, receitado por outra médica, com o
objetivo de otimizar o tratamento, porém sem o conhecimento ou
consentimento" da equipe médica do ex-presidente.
A Pregabalina é um remédio
anticonvulsivante e modulador de dor neuropática. No boletim médico, Birolini e
Echenique dizem que "esse medicamento apresenta importante interação com
os medicamentos que ele (Bolsonaro) utiliza regularmente para tratamento das
crises de coluço (Clorpromazina e a Gabapentina) e tem como reconhecidos
efeitos colaterais, a alteração do estado mental com a possibilidade de
confusão mental, desorientação, coordenação anormal, sedação, transtorno de
equilíbrio, alucinações e transtornos cognitivos".
Os médicos de Bolsonaro ressaltam
que o uso da Pregabalina foi "suspenso imediatamente, sem sintomas
residuais neste momento" e que vão realizar avaliações periódicas no
ex-presidente.
Fonte: Folha de Pernambuco.


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