Na retomada do julgamento do
núcleo 1 da trama golpista, nesta quarta-feira (3), foram ouvidas as
sustentações das defesas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), do ex-ministro
do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno; do ex-ministro da
Defesa, Paulo Sérgio Nogueira; e do ex-ministro de Bolsonaro e candidato à vice
na chapa de 2022, general Braga Netto. Ao longo do dia, advogados buscaram
afastar Bolsonaro da trama golpista.
Na avaliação do professor e
coordenador do curso de Direito da ESPM, Marcelo Crespo, a defesa do
ex-presidente “sempre foi muito difícil”, pelo contexto em que “ele se
inseriu”.
No segundo dia de sessões, o
advogado do ex-presidente, Celso Vilardi, disse não existir “uma única prova”
de que Bolsonaro tenha participado de uma tentativa de golpe e que o
ex-mandatário foi “dragado” para os fatos.
A defesa do ex-presidente também
solicitou a anulação da delação premiada de Mauro Cid, acusando-o de “não ser
confiável devido às contradições e omissões”, e de ter “colocado sua
voluntariedade em cheque” ao afirmar que foi coagido em seu interrogatório.
Para o professor, a crítica à delação não foi uma “grande surpresa”.
“Eles dizem que o Mauro Cid é
mentiroso, que ele falou e depois que voltou atrás, mas por outro lado, acabam
até concordando que as provas da Polícia Federal foram todas incluídas no
processo”, aponta.
Marcelo ressalta a tentativa da
defesa de Bolsonaro de “interpretação dos fatos” apontados na acusação como a
impressão da minuta golpista no Palácio do Planalto.
“Ele quer jogar de que isso é um
movimento pueril, infantil, mas tem outras coisas que acabam contrapondo. Por
exemplo, no próprio interrogatório de Bolsonaro, Alexandre de Moraes perguntou:
‘Você tendo perdido o recurso no TSE, você chamou generais para discutir
alternativas?’ e ele concordou. Confessou que para além da parte de recursos,
tinha ali uma intenção de permanecer no poder”, lembra Crespo.
Para o professor, a defesa de
Bolsonaro “sempre foi muito difícil”, por todo contexto em que o ex-presidente
se inseriu. “Ele está sendo julgado não por um ato específico, mas por uma
sucessão de atos, e uma sucessão de comportamentos que concluíram no 8 de
janeiro. Se fosse um ato único, específico, a defesa talvez fosse mais fácil,
mas tem um contexto do Bolsonaro sempre esticando a corda com o Supremo”,
ressalta.
Diferenças entre as defesas
Para Crespo, houve muitas
diferenças entre o estilo e as características dos advogados “como o advogado
ali que elogiou o Fux, o advogado que falou da sogra, que está uma coisa muito
mais no entorno das defesas do que no conteúdo delas mesmo”.
“As defesas trazem os elementos,
por vezes técnicos, por vezes interpretativos, mas a minha avaliação é de que
não houve grande mudança. Ninguém levantou nada tão louvideiro que pudesse
dizer: ‘Agora se descobriu algo no meio dos das provas que pudesse mudar o
destino dos acusados’. Não tem nenhuma inovação material”, avalia.
O advogado do general Braga
Netto, José Luis de Oliveira Lima, afirmou que as acusações do procurador-geral
da República (PGR), Paulo Gonet, contra o ex-ministro são baseadas em “uma delação
mentirosa e oito prints adulterados”.
A defesa também alegou não ter
tido acesso completo ao material da Procuradoria-Geral da República (PGR), que
sustenta a acusação da suposta trama do golpe.
A defesa do general Augusto
Heleno, representada pelo advogado Matheus Milanez tentou deslocar o militar do
ex-presidente, dizendo ter perdido espaço no governo e também contestou a
condução do ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, afirmando que houve
“falhas” no processo. Milanez também criticou uma pergunta feita por Moraes a
uma testemunha sobre uma postagem em rede social, que não constava nos autos.
Enquanto as demais defesas foram
enfáticas em argumentar que a tentativa de golpe não existiu, o advogado do
ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, argumentou durante sua
sustentação oral que o general atuou de forma ativa para afastar qualquer
iniciativa golpista do ex-presidente e que temia o levantamento e rompimento do
Estado democrático de direito.
Ainda segundo as defesas, o
professor destaca a posição de respeito dos advogados aos ministros, com as
saudações e elogios.
“É um trabalho técnico como
qualquer outro. Você tá lá como advogado, você não tá lá como inimigo do juiz.
Você está defendendo o interesse de alguém. Tratar bem os ministros só reforça
o trabalho técnico e talvez, até por isso, eles consigam ter a percepção mais
próxima dos ministros, de algum ponto da defesa para atenuar um pouquinho a
pena ali ou aqui”, aponta Crespo.
Cálculo das penas
Para Crespo, ainda não é possível
antecipar a dosimetria (cálculo) das penas, se os réus forem condenados,
cabendo “a cada um dos ministros”, com Moraes, o ministro relator, trazendo o
fio condutor e sua interpretação. “A partir da manifestação dele é que vai
entender se ele vai puxar mais para pena máxima ou não”, ressalta.
O professor ainda destaca que, de
acordo com o artigo 59 na Constituição, a dosimetria deve avaliar todo o
contexto, incluindo o comportamento do acusado e as características, “podendo
valorar para mais ou para menos”. E, do outro lado, a acusação do PGR
reiterando o que trouxe na denúncia.
“É possível que Alexandre de
Moraes, diga que Bolsonaro sendo o então Presidente da República conspirando
para ficar no poder, torna a conduta ainda mais gravosa. E esse tipo de
interpretação pode levar sempre uma pena mais alta”, especula.
Crespo avalia que as penas
deverão ser altas, mas não chegarão no máximo, “até por uma questão política”.
“Não deveria ser assim, mas é uma leitura que eventualmente o Supremo vai
condenar, mas dizer: ‘Não precisamos dar pena máxima, vai parecer eventualmente
que é uma uma perseguição’”, explica.
Possíveis condenações
De acordo com o professor, a
condenação das prisões poderá ser acima de 10 anos e deve acontecer por todo o
“contexto das provas”, mas observa que o regime do cumprimento da pena deverá
ser uma questão a ser discutida.
“Como regra, se é condenado a
altas penas, começa em regime fechado, mas é sabido que o regime fechado, como
foi pro presidente Lula e como pode ser para o Bolsonaro, até por questões de
segurança, possivelmente, não será num presídio comum”, aponta.
Após a possível condenação,
Crespo ainda acredita que a defesa do ex-presidente poderá usar a argumentação
da fragilidade que já vem sendo construída, mas que a tendência do Supremo não
será a de considerar imediatamente a questão da saúde, e “dependeria da defesa
depois fazer um pedido e demonstrações para tentar mudar alguma coesão nesse
sentido".
“Ele tem trabalhado junto aos
seus advogados para demonstrar que está fragilizado, que está com soluços. De
fato têm essas questões de saúde. Então, ele tem condições de pleitear que não
fique preso em regime fechado, mas em um regime domiciliar. Recentemente houve
uma decisão que favoreceu o Color nesse sentido, acredito que vão buscar isso
como um um parâmetro”, concluiu.
Fonte: Diário de Pernambuco.
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