O Supremo Tribunal Federal (STF)
inicia nesta segunda-feira a etapa de interrogatórios dos réus da ação que
trata de uma trama golpista. Os depoimentos são conduzidos pelo relator da ação
penal, ministro Alexandre de Moraes. O primeiro a falar será o tenente-coronel
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens que fechou acordo de delação premiada. Os
interrogatórios ocorrem na sala da Primeira Turma do STF, e todos os réus
participam presencialmente, com exceção do ex-ministro Walter Braga Netto, que
está preso preventivamente no Rio de Janeiro, e falará por videoconferência.
Mauro Cid
Ex-ajudante de ordens de
Bolsonaro. Cid firmou um acordo de delação premiada em que detalhou reuniões e
discussões sobre uma minuta golpista para evitar que o então presidente eleito,
Luiz Inácio Lula da Silva, assumisse o poder em janeiro de 2023. O
tenente-coronel trocou mensagens com outros militares investigados para obter
material para colocar em dúvida o processo eleitoral. Ele tinha, em seu
celular, documento com informações fraudulentas que questionava as urnas
eletrônicas. Também tinha, no mesmo aparelho, documento que seria um discurso
de Bolsonaro após o golpe.
Alexandre Ramagem
Deputado federal e ex-diretor da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin). É acusado de assessorar Bolsonaro em
estratégias de ataque às instituições democráticas e ao sistema eleitoral.
Segundo a PF, ele planejou, junto a Augusto Heleno, formas de coagir
autoridades policiais que cumprissem ordens judiciais contra os golpistas. Como
chefe da Abin, teria usado sua posição para produzir relatórios ilícitos que
beneficiariam a organização criminosa na tentativa de desestabilizar o sistema
eleitoral.
Almir Garnier Santos
Ex-comandante da Marinha. É
acusado de apoiar o golpe e colocar tropas à disposição da intentona golpista.
Segundo a PF, ele foi o único comandante das Forças Armadas a não se opor ao
plano apresentado em uma reunião no Ministério da Defesa em 14 de dezembro de
2022.
Anderson Torres
Ex-ministro da Justiça e
ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Foi denunciado por
suposta participação nos núcleos de Desinformação e Ataques ao Sistema
Eleitoral, que disseminavam informações falsas contra a urna eletrônica, e no
núcleo jurídico, responsável pela minuta do decreto golpista. A PF apreendeu a
minuta em sua residência em 10 de janeiro de 2023. Torres nega envolvimento na
confecção do documento, mas o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista
Junior confirmaram à PF que ele participou da elaboração.
Augusto Heleno
Ex-ministro do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI). É acusado de atuar de forma destacada na trama
golpista. Segundo as investigações, ele teria articulado com Alexandre Ramagem,
então diretor da Abin, para coagir a Polícia Federal a não cumprir ordens
judiciais, ameaçando com prisão em flagrante as autoridades policiais. O
objetivo era proteger integrantes da tentativa de golpe.
Jair Bolsonaro
Ex-presidente da República. A PGR
acolheu os argumentos da Polícia Federal, que indiciou Bolsonaro por três
crimes em novembro de 2024. No relatório, a PF afirma que o ex-presidente
“planejou, atuou e teve o domínio direto e efetivo dos atos executórios
realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um
golpe de Estado e a abolição do Estado Democrático de Direito, fato que não se
consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade”. Bolsonaro nega
envolvimento na trama.
Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
Ex-ministro da Defesa. É acusado
de pressionar os comandantes das Forças Armadas a apoiar o golpe de Estado e
oferecer suporte armado à ruptura. Teria insistido para que os chefes do
Exército e da Aeronáutica apoiassem a minuta do golpe, mesmo após a recusa
inicial.
Walter Braga Netto
Ex-ministro da Casa Civil. É
acusado de envolvimento no plano "Punhal Verde e Amarelo", que previa
o sequestro e assassinato de Alexandre de Moraes, Lula e Alckmin. Segundo a PF,
em 12 de novembro de 2022, um grupo de militares ligados a Braga Netto se
reuniu em sua residência para apresentar o planejamento das ações clandestinas.
A PF também aponta que Braga Netto e um grupo de militares planejavam criar um
gabinete vinculado à Presidência da República para atuar após o golpe, liderado
por ele e pelo general Augusto Heleno. Ele é acusado de pressionar Freire Gomes
e Baptista Junior a aderirem ao plano golpista e de coordenar ataques digitais
contra esses militares e suas famílias. Braga Netto está preso desde dezembro
de 2024 sob suspeita de obstrução de Justiça.
Fonte: Folha de Pernambuco.
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