Nesta quarta-feira (26), a juíza
e conselheira do Conselho Nacional de Justiça do Brasil (CNJ), Renata Gil,
defendeu o "estado de emergência" para salvar as mulheres da
violência doméstica no país. A juíza expressou, além disso, forte preocupação
com o aumento de casos de violência psicológica, criminalizada em 2021, a qual
classificou como alarmante e um perigoso degrau para a violência física e o
feminicídio.
"De uma forma também
estarrecedora e escandalosa, o Brasil tem 21,4 milhões de mulheres que sofrem
os tipos de violência que estão descritos na Lei Maria da Penha, a lei federal
brasileira aprovada em 2006 para estipular punição adequada e coibir atos de
violência doméstica contra as mulheres. Isso é muito relevante num país de 230
milhões de habitantes. A gente precisa de um estado de emergência para salvar
essas mulheres", declarou.
A magistrada, mencionando os
números mais recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, assinalou que
outro dado assustador no último levantamento foi que essa agressão é praticada
na frente das crianças. “As testemunhas são os filhos dessas relações e 70% dos
casos são praticados dentro do ambiente, da casa, do ambiente doméstico,
familiar. Essa realidade dificulta a apuração dos casos, num cenário em que
metade das mulheres não denuncia e por vários fatores, que estão sendo
estudados atualmente", acrescentou.
Gil é uma das principais ativistas
da causa no mundo e participou na 69.ª reunião da Comissão do Estatuto das
Mulheres, na sede da ONU, em Nova Iorque. “A violência doméstica afeta as
brasileiras de forma gritante", afirmou em entrevista ao jornal oficial da
Organização das Nações Unidas.
A juíza brasileira também é a
idealizadora da Campanha Sinal Vermelho contra a violência doméstica, resultado
de uma parceria entre a Associação dos Magistrados Brasileiros, na ocasião em
que era a presidente da entidade, e o CNJ. A iniciativa busca salvar
mulheres vítimas de violência doméstica de seus agressores através de um X
feito na palma da mão, que atua como um alerta e uma denúncia. Em 2021, a
campanha se tornou lei federal.
Violência digital
A juíza participa no painel de
violência contra a mulher do CNJ, instalado este mês, que tem entre as suas
prioridades a organização de estudos e estatísticas sobre o tema da violência
digital.
“O Brasil ainda não possui um código fechado
sobre violência digital e essa prática ainda não foi criminalizada, existindo
17 projetos de lei em análise no Congresso Nacional, e que o Supremo Tribunal
Federal (STF) emitiu recentemente uma decisão que categoriza as violências
digitais. A gente sabe que agressores se escondem dentro dessas plataformas,
então a nossa ação não é de atacar as plataformas, é de trazer as plataformas
como aliadas para que a gente identifique esses agressores e responsabilize
esses agressores. Se esse trabalho não for feito voluntariamente, o que a gente
espera que aconteça, ele, de qualquer forma, vai ter que ser feito
coercitivamente, através de legislação, de determinação do Supremo Tribunal
Federal,” apontou.
Fonte: Diário de Pernambuco.
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