Começo recorrendo a Herskovits:
“Cultura é a parte do ambiente feita pelo homem”.
Mas não se pode comentar o tema
em epígrafe se não buscarmos, na Unesco, que, em 1982, após Conferência do
México sobre Políticas Culturais (Mundialcult), emitiu o seguinte conceito:
“Cultura é o conjunto de traços distintos, espirituais e materiais,
intelectuais e afetivos, que caracterizam uma sociedade ou um grupo social. Ela
engloba, além das artes e das letras, os modos de vida, os direitos
fundamentais do homem, os sistemas de valor, as tradições e as crenças”.
Aqui entra também, com todo
vigor, a ética como um valor cultural, porquanto preocupada com os valores de
conduta social, interligando-se à sociedade, ao contrário da moral que é um
valor absoluto do indivíduo.
Deve-se ao filósofo Kant a ideia
de que a base de qualquer ética tem que ser o respeito, já que, existindo o
respeito à vida, tudo o mais vem por consequência na convivência social.
Já Santo Agostinho foi mais
incisivo: “Ama e faze o que quiseres”. Ou seja, o lastro de toda ética tem que
ser o amor. Parece-me que Kant foi mais feliz em situar o respeito como o maior
valor da ética, sobretudo porque, assim sendo, aí fica incluso o amor.
Se recorrermos ao sociólogo e
antropólogo Darcy Ribeiro, podemos trazer à reflexão a sua conceituação: “Falar
de cultura, numa compreensão oriunda da antropologia, não no sentido de homem
culto, pessoa culta, país culto, ou país inculto, ou pessoa inculta, mas no
sentido daquelas coisas que fazem dos homens seres humanos, nessa totalidade,
cultura é o ente conceitual, através do qual os homens aprendem a fazer as
coisas, a conviver, a se expressar. A cultura, em essência, é essa herança
social que se transmite e que permite a um povo fazer as coisas que ele faz.
Então, a cultura é você viver numa casa de aluguel ou ser capaz de fazer sua
casa de palha ou seu arranha-céu. É cultura, também, o modo como você cultiva,
como você come, como você se expressa, como você ama e como você é amigo”.
De novo o sentido ético de uma
convivência saudável é assinalada por padrões e regras traçados pela própria
sociedade enquanto grupo de pessoas. Daí o zelo que devemos ter quando
estivermos em países estrangeiros vivenciando outros usos e costumes. É o caso
de repetir velho ditado: Em Roma, faça como os romanos.
Entrou para as gafes
internacionais, a visita de um presidente americano à Índia, quando ofereceu
quadros emoldurados em couro, extraído do animal sagrado à religião hindu.
Estranho e exótico, os
cumprimentos das tribos do Tibete que, efusivamente, exibem a língua um para o
outro. Já os americanos mantêm a chamada “zona de conforto”, distanciando-se, por
um braço, do seu interlocutor, além de preferirem almoços, mesmo os comerciais,
assinalados pela pontualidade e pela rapidez, uma vez que formam a nação do fast-food.
Já a estética, no seu sentido
filosófico, tem a preocupação de estudar o racionalmente belo, seja quanto à
possibilidade da sua concepção e conceituação, seja quanto à diversidade de
emoções e sentimentos que ela enseja no ser humano, sendo, portando, um valor
cultural…
Saliente-se, ainda, como
expressão cultural, o que vem a ser monumentos e bens culturais, casarões e
casarios, os monumentos, sítios arqueológicos que tenham um valor universal
excepcional sob o ângulo da história, da estética, da etnologia ou da
antropologia, obras de arte e de arquitetura, os manuscritos, os livros e os
bens de interesse artístico, histórico e arqueológicos, os documentos
etnológicos, os espécimens – tipo da flora e da fauna, as coleções científicas
e as coleções relevantes de livros e arquivos, incluindo-se os arquivos
musicais, sem esquecer que aqui não analisamos, à falta de espaço, a nossa colonização,
os nossos valores etnológicos, a sociedade aristocrática, as mazelas da
escravatura, enfim, o que Joaquim Nabuco chamou de aperto do berço, nossas
raízes e nossas origens, que, um dia, haverei de comentar, até mesmo para
cultuar o que não passou do que passou, sendo este o passado concebido por
Alceu Amoroso Lima.
Roberto Pereira, ex-secretário de
Educação e Cultura do Estado e é membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.
Fonte Jornal do Commercio.


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