Imagem: Antonio Cruz/Agência Brasil |
"Criança
não aprende pelo erro. Criança precisa de supervisão do adulto bem de
perto". É o que defende o presidente do Departamento Científico de
Prevenção e Enfrentamento às Causas Externas na Infância e Adolescência da
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Luci Pfeiffer. O alerta coincide com
o Dia Mundial de Prevenção do Afogamento, celebrado nesta quinta-feira
(25), e se baseia em levantamento divulgado pela entidade, segundo o qual, em
média, três crianças e adolescentes perdem a vida por afogamento, diariamente,
no Brasil.
A SBP
analisou os registros de óbitos ocorridos entre os anos de 2021 e 2022, quando
houve mais de 2,5 mil vítimas desse tipo de acidente que, de acordo com a
entidade, é completamente evitável. As crianças de um a quatro anos de idade
foram as principais vítimas, com 943 mortes, seguidas de adolescentes de 15 a
19 anos (860 óbitos). O estudo incluiu as faixas etárias de 10 a 14 anos (com
357 óbitos); de cinco a nove anos (291); e os menores de um ano (58).
“Falta
cuidado, falta proteção. Falta os pais saberem que criança precisa de
supervisão do mundo adulto e de um ambiente protegido, porque tem coisas que
você evita adaptando esse ambiente à atividade de uma criança”, avalia Luci
Pfeiffer. As mortes são resultado também da imprudência de pais e de filhos,
acrescentou a pediatra.
A
pediatra atribui a grande incidência de óbitos por afogamento em
crianças de 1 a 4 anos de idade à falta de proteção nos ambientes que os
menores frequentam. “E a partir daí, tanto a falta de equipamentos de
segurança, como na adolescência pela falta de exemplo e supervisão, porque
adolescência também tem que ser supervisionada”. Os afogamentos entre adolescentes
se dão mais em águas naturais, como rios, lagos e praias, quando eles se
arriscam em lugares desprotegidos que são deixados sem supervisão. Entre as
crianças pequenas, a maioria dos acidentes acontece dentro de casa, na
lavanderia, no banheiro, na piscina e em lugares de lazer.
Luci
Pfeiffer afirmou que boias de braço e circulares e brinquedos flutuantes devem
ser totalmente evitados. A única proteção comprovada internacionalmente na
prevenção dos afogamentos é o uso de colete guarda-vidas, com certificado do
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e
reconhecimento pela Marinha Brasileira. “O colete garante que a cabeça ficará
para fora da água”.
A
pediatra recomenda que a criança de 3 a 4 anos deve estar à distância de um
braço dentro d’água do adulto cuidador. De dois anos para baixo, ela deve estar
junto do adulto. “O adulto cuidador deve estar segurando essa criança em um
colete salva vida que seja certificado pelo Inmetro e pela Marinha, porque esse
é o único equipamento de segurança que mantém a cabecinha fora d’água. Tantos
as boias de braço como as circulares podem manter, ao contrário, as crianças
com a cabeça para baixo. Aí, ela não tem força para fazer a virada”.
Outra
coisa perigosa, na avaliação da especialista, são brinquedos em que a criança
fica sentada fora da água, como cavalinhos, porque podem virar de um jeito que
fiquem em cima da criança. “Virando, ela não tem proteção. É uma aspiração de
água e ela não consegue mais respirar”.
Luci alertou
que mesmo que a criança saiba nadar aos 12 anos, ela tem que ter supervisão
direta e perto do adulto. Entre 3 e 4 anos, mais ainda. “Os pais ensinarem o
filho a nadar a partir dos 4 anos é muito bom, mas isso não significa que ela
vai conseguir se defender em uma manobra mais intempestiva que as crianças
gostam de fazer, ou em uma água natural como o mar ou rios, O adulto tem que
estar perto”, alerta.
O estado que
mostra o maior número de registros de mortes no período analisado é São Paulo
(296), devido, em grande parte, à população maior, seguido da Bahia (225), Pará
(204), Minas Gerais (182), Amazonas e Paraná (131, cada). Os acidentes fatais
envolvendo crianças e jovens do sexo masculino corresponderam a 76% dos
registros nos anos pesquisados, enquanto as meninas somaram 24%. Muitas
crianças que não chegam a se afogar apresentam graves sequelas. “É um dano
irreparável”.
Por
regiões, o maior número de óbitos foi encontrado no Nordeste (375, em 2021, e
398, em 2022), seguido da Região Sudeste (324 e 348), Norte (275 e 222), Sul
(157 e 143) e Centro-Oeste ( 143 e 124).
Luci
Pfeiffer indicou que entre as ações preventivas eficazes está a proibição da
livre entrada de crianças pequenas em ambientes como cozinhas, banheiros e
áreas de serviço e a importância de bloqueios que impeçam o acesso de menores.
“Precisa ter portões na cozinha, porque isso evita também a ocorrência de
queimaduras, sobretudo em crianças pequenas que estão na fase de engatinhamento.
São lugares de risco a cozinha, lavanderia, porque uma criança pequena que
ainda não tem domínio do seu caminhar, se ela cair em uma bacia com dez
centímetros de água, ela pode se afogar. Baldes e bacias não podem estar no
chão com restos de água, bem como as piscininhas de plástico”, recomenda.
“A
gente precisa evitar que a criança chegue a lugares com água sem supervisão
Como as pessoas não conseguem dar conta das crianças o tempo inteiro, é preciso
ter barreiras físicas mesmo”. O mesmo cuidado deve ser tomado com relação a
piscinas em casas, condomínios e clubes, sinalizou a pediatra. Isso pode ser
feito por meio do estabelecimento de portões e barreiras no entorno para
controlar o acesso que possam impedir que os menores consigam abrir ou escalar.
“Piscina não é brinquedo”, advertiu. É um lugar de lazer, mas precisa de
cuidado, ou seja, um adulto tem que estar alerta e tomando conta diretamente
das crianças e adolescentes no local, sem desviar atenção para celulares, entre
outras coisas.
Reportagem da Agência
Brasil para o Diário de Pernambuco. Disponível em: https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/brasil/2024/07/brasil-registra-media-de-tres-mortes-ao-dia-de-criancas-e-jovens-por-a.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário